Afroempreendedores atingem renda média recorde de R$ 2,4 mil por mês

  • 28/11/2025
(Foto: Reprodução)
Para Bárbara Aguiar, empreender é libertar. Apoiar o afroempreendedorismo? É fortalecer. Acervo de Bárbara Aguiar Afroempreendedorismo é representatividade. É valorização. É comunidade. Dele vem o conceito de black money, um movimento que propõe algo simples, mas revolucionário: fazer o dinheiro circular entre pessoas negras e fortalecer suas iniciativas. Segundo o Sebrae, estima-se que o empreendedorismo negro movimente quase R$ 2 trilhões por ano em todo o país. A pesquisa “O novo retrato do negro empreendedor brasileiro sob a ótica da PNAD Contínua” (2025) mostra que esse impacto só tende a crescer. O número de afroempreendedores com CNPJ vem aumentando e alcançou 24,7% dos negócios formalizados no último trimestre de 2024. Nesse período, o grupo atingiu seu valor recorde de rendimento médio na série histórica: R$ 2.477. No entanto, os desafios permanecem. Esse valor ainda é 46,5% menor do que o rendimento médio dos brancos donos de negócio (R$ 4.607). Além disso, apenas 29,1% contribuem para a Previdência, quase a metade do número observado entre brancos, e somente 10,1% atuam como empregadores, já que a maioria trabalha por conta própria. Mesmo diante dos obstáculos, o afroempreendedorismo segue se fortalecendo como um movimento de transformação, ascensão e potência coletiva. E é nessa construção que o Sebrae atua junto aos empreendedores, abrindo caminhos para capacitar e apoiar negócios, assim como foi com a Bárbara. De mulher preta para mulher preta A empreendedora Bárbara Diana da Silva Aguiar, 44 anos, nasceu em Salvador (BA). Ela começou a trançar cabelos afro aos seis anos. Todos os penteados e cuidados eram feitos no salão de beleza da mãe, Bárbara Ramos, em um espaço improvisado na varanda da casa da avó, Hildete. E isso sempre a deixou pensativa. "Eu via grandes salões nos shoppings sempre bem estruturados, com equipes grandes. Já os cuidados com cabelos cacheados e crespos, de mulheres pretas para mulheres pretas, aconteciam na cozinha à beira do fogão, no chão da sala... Isso me incomodou por muitos anos. Foi quando decidi: quero aprender como ter um salão digno para mulheres pretas. Então fui estudar administração", conta. Bárbara cresceu em um ambiente voltado à valorização negra, fortalecida por sua tia Ana Meire, integrante do primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, que transmitia à família o orgulho das raízes e da cultura afro-brasileira. “Recebi uma educação racial desde a infância, que ensina a reconhecer quem você é e amar quem você é, com seu cabelo crespo, com seus lábios grossos, com seu nariz grande e sua pele preta", relembra. Por um tempo, Bárbara atuava com a mãe, fazendo permanentes e alisamentos. Até ser questionada pela mesma tia: “É você que está alisando os cabelos dos pretos?”. A pergunta, aparentemente simples, fez Bárbara relembrar os ensinamentos que ouviu e se reconectar à sua ancestralidade. "O Instituto Yalodê representa resiliência", conta Bárbara, dona do negócio. Em 2008, prestes a realizar sua formatura, Bárbara encontrou um braço parceiro para sua jornada empreendedora. "Minha turma não tinha recursos para pagar um espaço. Foi quando mandamos um ofício para o prédio do Sebrae, explicando que era uma turma de administração, e cederam o espaço para nossa colação de grau. Desde então, criei uma ligação com a instituição e fiz diversos cursos", lembra. Um ano se passou e Bárbara abriu seu primeiro negócio no bairro do Tororó: o salão Yalodê. "No culto africano, Yalodê é o título dado à representante feminina. Nós nascemos com o intuito de ser um salão de estilização de cabelos crespos e cacheados, representando a identidade dessas mulheres, valorizadas por seus cabelos naturais", explica a empreendedora. Dali em diante, alisamento nenhum entrou em seu salão. Com especialidade em cortes a seco e de máquina e em estilizações como tranças, dreads, megahair, penteados afro, apliques, próteses capilares, tratamentos personalizados e cronograma capilar, ali a valorização da beleza não significaria fugir das origens. Aprendizados e processos Mergulhando em aprendizado, Bárbara abraçou o Sebrae e não soltou mais. Fez cursos de atendimento, gestão de pessoas, participou de mentorias e do programa Sebrae Delas. Em cada capacitação, aprendeu mais sobre ampliação do negócio e liderança. “A faculdade me ensinou educação financeira para o meu negócio, mas a parte de estrutura, de se manter no mercado e desenvolver cada processo de gestão, de estratégia e de planejamento, quem me deu foi o Sebrae”, conta. Com o apoio da instituição, também criou site e panfletos do salão, além de começar a desenvolver um infoproduto para expandir o alcance do Yalodê. Mas o caminho nem sempre foi fácil. Entre burocracias para formalizar o negócio, negativas de crédito e a falta de capital de giro, Bárbara precisou enfrentar vários "nãos". “Eu ia aos bancos tentar financiamento e sempre ouvia que precisava de movimentação na conta ou de sócios. Mas como movimentar uma conta se eu ainda estava começando?”, lembra. Mesmo com o salão já de pé e seis pessoas contratadas, o dinheiro não era suficiente para manter tudo funcionando. Foi aí que entrou em modo de sobrevivência: trabalhou como promotora de eventos, panfletou em praias e sinaleiras e vendeu o próprio carro para cobrir as despesas. Também contou com o apoio de amigas, que emprestaram dinheiro, e do namorado, que pediu rescisão do emprego para ajudar a pagar o primeiro aluguel. A persistência deu frutos: em cerca de um ano, o Yalodê se reergueu e cresceu “de forma majestosa”, como ela mesma diz. O acesso ao crédito no Brasil ainda reflete desigualdades raciais. Segundo Eraldo Ricardo dos Santos, gerente adjunto de diversidade e inclusão do Sebrae Nacional, instituições financeiras consideram garantias e o CEP da residência ao avaliar pedidos. Como grande parte da população negra não possui imóveis e vive em áreas consideradas vulneráveis, suas pontuações tendem a ser mais baixas. Esse cenário ajuda a explicar por que obstáculos enfrentados por empreendedores negros, como Bárbara em 2009, continuam presentes. A pesquisa “O financiamento nos pequenos negócios no Brasil 2025” aponta que 46% das pessoas negras que solicitaram empréstimo não obtiveram aprovação, enquanto 12% ainda aguardam resposta. Os números evidenciam o desafio de obter recursos, reforçando a determinação de quem segue empreendendo apesar das barreiras. Da herança da família ao legado Inspirada pela avó Hildete, que dizia “No quintal de casa tem tudo o que o seu cabelo precisa para se fortalecer”, Bárbara aprendeu que cada fio precisa de um cuidado diferente. Essa sabedoria guiou seu caminho e se tornou a base do salão, que herdou esse conhecimento para desenvolver tratamentos específicos e produtos. Assim, desenvolveu dois cremes de pentear, um ativador de cachos e o seu carro-chefe: o tratamento Espuma Black. Esse método hidrata, modela e nutre cabelos crespos e cacheados sem química, reduzindo o frizz e estimulando o crescimento. "O propósito do Instituto Yalodê é transformar", diz empreendedora. Acervo de Bárbara Aguiar Foi nesse momento de aprendizado e construção que a maternidade trouxe novos desafios: em 2014 seu filho Akani recebeu o diagnóstico de autismo. Isso a fez repensar a vida e o negócio. “Eu não sabia o que era neurodivergência, e o preconceito que eu pensava que meu filho ia sentir me dava muito medo”, lembra. Por um tempo cogitou deixar o salão, mas o conselho do pai, que trabalhava com pessoas com deficiência, mudou sua perspectiva: “Não esconda seu filho da sociedade”. Foi assim que entendeu que tinha dois filhos que precisavam de cuidado: o biológico, Akani, e o Yalodê, seu sonho. No coração do Pelourinho Transformando dor em força, Bárbara ressignificou o salão. Ao todo, o Yalodê percorreu três endereços em Salvador e sobreviveu a crises, incluindo violência urbana. No pós-pandemia, floresceu no Pelourinho, firmando raízes em um território histórico. Evoluiu de salão Yalodê para o Instituto Yalodê em 2025. Hoje, o Instituto oferece produtos, serviços e capacitação para cuidados de cabelos crespos e cacheados, com cursos voltados a mulheres negras, mulheres surdas e pessoas LGBTQIA+, atendendo cerca de 35 a 40 clientes por mês e turmas de 25 a 30 alunas. Guiada pelo princípio africano Sankofa, que ensina a olhar para o passado para construir o futuro, Bárbara celebra o local: “Eu vejo o meu povo, vejo a ancestralidade, a arte, a cultura. É o lugar certo”. O Instituto conta com uma equipe diversa, formada por seis profissionais permanentes e oito mentores que ministram os cursos, mantendo o compromisso de transformar vidas por meio da estética afro. O portfólio do Yalodê também cresce: Bárbara lança em poucos dias uma linha completa de shampoo, condicionador e máscara, produtos liberados, enriquecidos com biotina, colágeno e filtro solar. Todo o trabalho do Instituto Yalodê rendeu reconhecimentos importantes, como o Certificado de Diversidade da Prefeitura de Salvador e o terceiro lugar no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2025, na fase regional. Mas, acima dos prêmios, o que move Bárbara é maior: "O propósito do Yalodê é que em cada salão de beleza tenha pelo menos uma especialista em cabelo crespos e cacheados. É formar especialistas em estética afro, seja no nosso estado ou fora dele", finaliza. Equidade e inovação são as premissas do aplicativo de Milena, Páginas Pretas Classificados. Acervo de Milena de Sá Negros na primeira página e em todas as outras O propósito de fortalecer o afroempreendedorismo segue vivo em outras iniciativas. Inspirada pela mesma visão de dar espaço e visibilidade a talentos negros, Milena dos Santos de Sá, 41 anos, natural do Rio de Janeiro, fundou o aplicativo Páginas Pretas Classificados. A plataforma conecta clientes e empresas aos empreendedores negros por meio de anúncios e nas redes sociais, criando um ecossistema que promove o desenvolvimento econômico. "Sou da época do Páginas Amarelas. No classificado não aparecia os rostos dos profissionais, exatamente como acontecia com as pessoas negras na década de 80. Cresci vendo poucas referências negras na TV. O Páginas Pretas Classificados é o oposto! Mostramos em nossos canais de comunicação quem são os profissionais que fazem parte da nossa rede", explica a empreendedora. Milena cursou Relações Internacionais e trabalhou por 11 anos com comércio exterior, importação e exportação, mas a correria do dia a dia a fez refletir sobre a falta de tempo para acompanhar seu filho. Em 2020, começou a divulgar seu trabalho como tradutora freelance em grupos nas redes sociais. Por ali, percebeu que muitos profissionais negros faziam o mesmo. Inspirada por experiências pessoais, como quando foi barrada em um restaurante na Gávea por ser negra, criou uma solução que começou como uma simples planilha compartilhada, e hoje é app com geolocalização, compra, contratação e curadoria para valorizar empreendimentos liderados por pessoas negras. Transformando a ideia em negócio Em parceria com Gabriel da Veiga, desenvolvedor de software, Milena criou o aplicativo, que, depois de aproximadamente um ano de desenvolvimento, passou a funcionar oficialmente em 5 de setembro de 2021. Hoje a plataforma conta com 433 profissionais e negócios cadastrados, com cerca de 10 novos cadastros por mês e reúne todos os gêneros, classes sociais, idades e níveis de experiência. O acesso é gratuito e permite contato direto com os profissionais via aplicativo de mensagens, potencializando oportunidades e conexões. “70% dos empreendimentos cadastrados são de mulheres, muitas responsáveis pelo sustento da família. O comentário geral da experiência dos usuários é de conseguir realizar o seu trabalho com orgulho, ser visto e respeitado", ressalta Milena. Para realizar o cadastro no aplicativo é simples. O profissional ou negócio interessado deve fornecer nome, telefone, e-mail, CPF, CNPJ (caso possua), nome do empreendimento e dados dos produtos e/ou serviços. Embora Milena não tenha enfrentado dificuldades para conseguir emprego devido a um bom networking, ela observa que muitos profissionais negros enfrentam barreiras na contratação. “É importante que as empresas de RH focadas em empregabilidade dos profissionais negros garantam a equidade no mercado de trabalho. Uma das maiores queixas é a desconfiança na capacitação do profissional apenas pelo fato de ser negro", enfatiza. Impulso que vira impacto Enquanto desenvolvia o aplicativo, Milena conheceu o Sebrae por meio do programa Empreendedoras Tech, que foi um diferencial para o desenvolvimento do Páginas Pretas Classificados. “Tive a oportunidade de estruturar o negócio com estratégia e tranquilidade, pois tinha acesso à bolsa de estudos. Isso faz toda a diferença para quem atua com um empreendimento de impacto, porque permite dedicar-se às metodologias, testá-las e aprimorar. Sem recursos, você precisa focar primeiro em levantar fundos para se manter”, explica. Desde então, Milena participou de diversas iniciativas e mentorias, como o Projeto Sebrae Afroempreendedorismo, a Maratona de Ciências Comportamentais e atualmente acompanha o Sebrae Startups. Toda essa visão inspirou Milena a também impulsionar o crescimento do Páginas Pretas Classificados. Dessa forma, a plataforma oferece mentorias com especialistas nas áreas de gestão de negócios, contabilidade, marketing, finanças, jurídico e inteligência artificial. Ela também promove palestras sobre letramento racial, saúde e bem-estar, experiências com massoterapia, eventos culturais e serviços de catering, unindo diversidade e inclusão às estratégias de ESG e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das empresas parceiras. Milena também promove eventos culturais com os empreendedores da rede de seu aplicativo. Acervo de Milena de Sá Segundo a empreendedora, a maior carência dos profissionais que atendem é em gestão de negócios e marketing. “Um dos principais motivos de mortalidade dos negócios está relacionado às dificuldades com gestão. É o que mais gera dúvidas entre empreendedores e exige atenção constante, adaptação e acompanhamento diário”, observa. Para ampliar trocas de conhecimento, ela criou um grupo de networking on-line, onde empreendedores podem fazer parcerias, trocar ideias e compartilhar oportunidades. Nos últimos anos, Milena tem colecionado reconhecimentos e oportunidades que fortalecem o Páginas Pretas Classificados. O negócio foi destaque em eventos como o Web Summit Rio, Rio Innovation Week e Expo Favela, além de participar de programas de aceleração e impacto, como Dima Ventures, Afropreneurs Djassi Africa, Impact Hub, MDIC, IBMEC e Ciências Comportamentais do MGI. Mais recentemente, a plataforma foi convidada a ser embaixadora do Festival Cria Brasil, encontro de economia criativa e inovação realizado no Museu do Amanhã. E neste ano, Milena foi premiada. “Esse reconhecimento é a prova de que o esforço e a dedicação dos últimos quatro anos, entre os desafios de ser mãe e empreendedora, têm gerado impacto real na valorização do empreendedorismo negro e na construção de uma sociedade mais equitativa e diversa", comenta sobre o terceiro lugar na etapa estadual do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2025. Mais negócios, menos barreiras Assim como Milena foi a conexão entre pessoas negras e oportunidades de trabalho, o Sebrae fez o mesmo ao se unir ao Movimento pela Equidade Racial (Mover) no projeto Mover Mais Negócios. "O projeto busca conectar os afroempreendedores às empresas que fazem parte do Grupo Mover, criando pontes reais de oportunidade dentro das cadeias de fornecimento", explica Fau Ferreira, gerente nacional de Afroempreendedorismo do Sebrae. As formações dentro do projeto são gratuitas e se dividem em três jornadas: para quem está começando, para MEIs e para microempresários. Os temas abrangem gestão, inovação, sustentabilidade, planejamento estratégico, finanças, comunicação em vendas e até o uso da inteligência artificial. Além das trilhas, o programa também promove oportunidades de conexão por meio das rodadas de negócios, reduzindo as distâncias entre empreendedores negros e grandes corporações. Conheça mais dessa iniciativa aqui. Fortalecendo o empreendedorismo negro no Brasil O Sebrae acredita que apoiar o empreendedorismo negro é impulsionar o desenvolvimento do país de forma mais justa. “Ao apoiar negócios comandados por pessoas negras, estamos criando oportunidades e construindo um futuro mais inclusivo. A atuação está centrada em promover a igualdade e o crescimento para uma parcela significativa da população", destaca o presidente Décio Lima. Cada unidade do Sebrae atua de forma próxima às comunidades, adaptando suas metodologias às realidades de cada estado brasileiro. Com esse propósito, o Sebrae tem fortalecido ações voltadas a empreendedores pretos, oferecendo capacitação, informações estratégicas e apoio para que seus negócios cresçam de forma sustentável. Confira mais conteúdos sobre o tema: Setores e segmentos no mercado afro-brasileiro E-book gratuito, produzido pelo Sebrae Rio, traz informações estratégicas para micro e pequenas empresas sobre diversos setores da economia brasileira. Gestão para afroempreendedores Vídeo sobre estruturação de negócios e formas de gestão para apoiar empreendedores negros a ocuparem seus espaços de forma competitiva. Empreendedorismo afrodescendente: desafios e oportunidades Artigo que analisa o contexto histórico e atual do afroempreendedorismo e suas principais portas e obstáculos. Afroempreendedorismo E-book gratuito que explica o movimento afroempreendedor e seu impacto na reconstrução de narrativas culturais, políticas e socioeconômicas.

FONTE: https://g1.globo.com/empreendedorismo/pegn/especial-publicitario/empreenda-com-sebrae/noticia/2025/11/28/afroempreendedores-atingem-renda-media-recorde-de-r-24-mil-por-mes.ghtml


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