Crescimento das faculdades privadas impulsiona salto de médicos generalistas em SP, que já somam 80 mil
10/12/2025
(Foto: Reprodução) Treinamento para enfrentar uma cirurgia: melhorar a saúde física e mental antes do procedimento pode reduzir o risco de complicações pós-operatórias
Ahamad Ardity para Pixabay
O estudo Demografia Médica do Estado de São Paulo 2026, divulgado nesta quarta-feira (10), mostra uma transformação importante no perfil da força de trabalho da saúde: o número de médicos generalistas cresce mais rápido do que o de especialistas, movimento impulsionado pela abertura de vagas e escolas médicas privadas nos últimos anos.
A pesquisa aponta que 60% dos médicos em atividade no estado são especialistas, o equivalente a aproximadamente 117,7 mil profissionais. Os especialistas, porém, se concentram majoritariamente em regiões de maior infraestrutura hospitalar: 57% atuam na Grande São Paulo e outros 10% na região de Campinas, reforçando a desigualdade territorial do acesso à assistência especializada.
Já o grupo de médicos generalistas — aqueles sem título de especialista — soma cerca de 80 mil profissionais, ou 40% do total de médicos paulistas.
O crescimento é expressivo. Em 2000, os generalistas eram menos de 25% da força médica do estado. Hoje, representam uma fatia muito maior, resultado direto da expansão de cursos privados, do aumento das vagas de graduação e da formação acelerada de novos médicos.
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O lançamento dos dados foi na Associação Paulista de Medicina (APM), na Bela Vista, Centro de São Paulo.
Segundo levantamento do grupo Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), entre janeiro de 2024 e setembro de 2025 o Ministério da Educação (MEC) aprovou a criação de 77 novos cursos de medicina no país, totalizando 4.412 vagas de graduação. Além disso, 20 cursos já existentes tiveram suas turmas ampliadas, somando mais 1.049 vagas — juntas, 5.461 vagas novas no período.
Segundo o presidente da Associação Paulista de Medicina (APM) e professor docente da Santa Casa de São Paulo, Antonio José Gonçalves, a especialização é fundamental para o profissional e para toda sociedade.
Estamos preocupados com o avanço absurdo dos cursos de Medicina por todo país, que só visam lucro. No Estado de São Paulo, apesar de termos faculdades sérias, também observamos a proliferação de cursos que preocupam pela má qualidade.
A pesquisa utilizou duas metodologias distintas. Toda a parte estatística — que calcula número de médicos, distribuição por gênero, idade, especialidades e crescimento dos generalistas — é produzida a partir de dados administrativos oficiais do Cremesp e do CFM, sem entrevistas individuais.
Já o inquérito com cirurgiões gerais segue metodologia própria e realizou 1.544 entrevistas telefônicas no país, sendo 798 em São Paulo, com amostragem e questionário de 35 perguntas. Apesar de esse estudo não ser a base dos dados principais, ele mostra um recorte específico de uma área historicamente masculina. (Veja mais abaixo.)
Ritmos diferentes
Segundo o estudo, São Paulo segue como o principal polo formador do país, mas a oferta de vagas de Residência Médica não acompanha o número de recém-formados. Isso faz com que milhares de médicos entrem no mercado sem título de especialista.
A demanda crescente por profissionais em áreas básicas do sistema de saúde — como atenção primária, plantões hospitalares e serviços de urgência — também tem absorvido grande parte dos generalistas, que acabam atuando antes de concluir uma especialização.
Mesmo com a expansão da formação médica, a concentração de especialistas em regiões metropolitanas permanece alta. Municípios médios e pequenos dependem proporcionalmente mais dos generalistas, que hoje cobrem grande parte das necessidades assistenciais fora dos grandes centros.
O levantamento reforça que, sem aumento proporcional das vagas de Residência Médica, o número de generalistas deve continuar crescendo em ritmo acelerado nos próximos anos.
Equipe médica durante a realização da Cirurgia Genital Afirmativa de Gênero
Urologistas Associados
Metodologia
A pesquisa combina dois métodos distintos. A maior parte do estudo — que apresenta dados sobre número total de médicos, feminização, envelhecimento, distribuição territorial, especialidades e crescimento dos generalistas — é baseada em dados oficiais, como números do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e o banco nacional do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Essas fontes reúnem todos os médicos registrados e permitem análises demográficas, séries históricas e projeções sem a realização de entrevistas individuais, já que se trata de um levantamento censitário da força de trabalho médica.
A única parte do relatório baseada em entrevistas é o inquérito com cirurgiões gerais, que tem metodologia própria. Ele utilizou amostragem probabilística aleatória estratificada para garantir representatividade das cinco regiões do país e realizou 1.544 entrevistas telefônicas com profissionais em atividade registrados no Colégio Brasileiro de Cirurgiões — sendo 798 em São Paulo.
As entrevistas ocorreram entre setembro de 2024 e fevereiro de 2025, com questionário estruturado em 35 perguntas, e o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da USP.