CRIs, CRAs e debêntures: crédito privado bate recorde e acende alerta entre especialistas; saiba por quê

  • 28/11/2025
(Foto: Reprodução)
Investimento em crédito privado atinge nível recorde O mercado de capitais brasileiro passa por um novo fenômeno: o aumento das emissões de títulos de crédito privado. Em um cenário de taxa básica de juros muito alta, mais empresas têm buscado alternativas para obter recursos sem depender apenas dos grandes bancos. A taxa Selic está em 15% ao ano desde junho, no maior patamar em 20 anos. Com isso, o crédito bancário fica mais caro e difícil de obter. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça Soma-se a isso uma mudança na forma de atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ocorrida a partir de 2017. “O BNDES reduziu o volume de empréstimos subsidiados e passou a ser mais seletivo na escolha dos projetos que financia, priorizando iniciativas ligadas à sustentabilidade, inovação e infraestrutura verde. Muitas empresas passaram a buscar novas formas de captação de recursos no mercado”, explica Diego Ramiro, presidente da Associação Brasileira dos Assessores de Investimentos (ABAI). Assim, em vez de pegar empréstimos diretamente com instituições financeiras, as empresas emitem títulos no mercado financeiro para captar recursos, manter projetos e equilibrar as contas. Os investidores, por sua vez, aproveitam esses títulos, que costumam oferecer taxas mais atrativas que as dos títulos públicos e dos bancos (CDBs) — e, em alguns casos, são isentos de Imposto de Renda. O resultado, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), é que as operações de crédito privado somaram R$ 381,4 bilhões no acumulado de 2025 até setembro — o equivalente a 72% dos R$ 528,4 bilhões emitidos no período. Embora sejam títulos de renda fixa, geralmente considerados mais seguros, esses investimentos carregam riscos que variam conforme o emissor. Além disso, a busca por isenções tributárias pode levar o investidor a produtos com risco maior do que imagina. São duas as principais alternativas no mercado financeiro: ▶️ ️Debêntures: títulos de dívida emitidos por empresas para financiar projetos de longo prazo. Incentivadas: voltadas a projetos de infraestrutura e isentas de Imposto de Renda para pessoa física. Não incentivadas: seguem a tributação tradicional, com alíquota regressiva de 22,5% a 15%, conforme o prazo do investimento. ▶️ Certificados de Recebíveis: títulos lastreados em créditos de setores específicos e isentos de IR para pessoa física, que permitem às empresas antecipar o recebimento de receitas futuras. CRIs (Imobiliários): vinculados a operações do setor imobiliário. CRAs (do Agronegócio): ligados ao financiamento do agronegócio. Riscos despercebidos Em relatório, o BB Investimentos (BB-BI) destaca que a procura por crédito privado ganhou força nos últimos meses impulsionada pelas discussões em torno da Medida Provisória 1.303/2025 — que propunha novas regras para a tributação de alguns produtos de investimento. Mas a MP perdeu validade ao não ser aprovada pelo Congresso. O texto preliminar elevava de 5% para 7,5% a alíquota do Imposto de Renda para produtos bancários, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs). Por outro lado, mantinha a isenção para debêntures incentivadas, CRAs e CRIs. “A possibilidade de incidência de imposto de renda para produtos incentivados, com emissões realizadas a partir de 2026, acelerou a busca por crédito privado”, escreveram Viviane Silva, Melina Constantino e Fernando Cunha, analistas do BB-BI. 🔎 Embora também sejam títulos de renda fixa ligados ao crédito privado, as LCIs e LCAs funcionam de maneira diferente: quem emite os papéis são os bancos, e não diretamente as empresas ou securitizadoras. Ou seja, o risco para o investidor está no banco emissor, não em quem tomou o empréstimo. Apesar da vantagem da isenção de IR, esse tipo de investimento envolve riscos que o diferenciam da renda fixa tradicional. Segundo Andressa Bergamo, especialista em investimentos e sócia da AVG Capital, o principal deles é justamente o risco de crédito — a chance de a empresa emissora não cumprir com o pagamento dos juros ou do valor investido. “Ao contrário dos títulos públicos, garantidos pelo Tesouro Nacional, os papéis de crédito privado estão sujeitos à capacidade financeira da empresa ou à qualidade dos ativos que servem de garantia para a operação”, afirma. 📊 Em um cenário de economia mais fraca e juros elevados, cresce a probabilidade de atraso ou calote das empresas, o que exige atenção de quem investe nesse tipo de produto. ⚠️ Diferentemente de outros produtos de renda fixa — como LCIs, LCAs e Certificados de Depósito Bancário (CDBs) —, os títulos de crédito privado não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura até R$ 250 mil por investidor em caso de quebra da instituição financeira. Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, explica que, se a empresa emissora enfrentar dificuldades financeiras ou falir, o investidor pode não recuperar o valor aplicado. Ao contrário dos produtos protegidos pelo FGC, o risco recai integralmente sobre quem investe. “Se a empresa quebrar, você pode perder todo o dinheiro investido. Por isso, é essencial observar as garantias, a classificação de risco (rating) do título, o histórico e o setor da empresa, avaliando se o negócio é sólido e estável”, orienta Patzlaff. Outro fator que os especialistas chamam atenção é a baixa liquidez de alguns desses títulos, já que nem todos contam com negociação diária no mercado secundário — onde investidores comuns compram e vendem títulos que já foram emitidos anteriormente. 📆 Isso significa que eles podem precisar manter o título até o vencimento ou, caso queira vender antes, talvez tenha que aceitar um valor menor do que o aplicado originalmente. Os prazos vão de cerca de dois anos e podem ultrapassar 10. 📉 Mas as variações de preço também são influenciadas por fatores macroeconômicos, como mudanças na taxa Selic ou aumento do risco-país, que afetam o apetite dos investidores e a atratividade dos títulos. Diego Ramiro, da ABAI, reforça que vender o título antes do vencimento pode resultar em prejuízo. “É importante que o investidor alinhe suas expectativas de prazo, pois a possibilidade de negociação no mercado secundário varia conforme o risco da empresa emissora e o cenário de juros do momento.” Retorno nem sempre compensa A relação entre risco e retorno no crédito privado é medida pelos spreads, a diferença entre o preço da compra e o preço da venda do ativo. Normalmente, empresas com maior risco pagam um “prêmio” mais alto para atrair investidores. Mas, nos últimos meses, essa dinâmica mudou. De acordo com os analistas do BB-BI, a procura por títulos de crédito privado, refletida no volume recorde de R$ 124 bilhões negociados no mercado secundário em outubro, reduziu os spreads, diminuindo a remuneração adicional recebida pelos investidores em troca do risco assumido. “Na segunda quinzena de outubro, e após a MP perder a validade, houve um movimento de correção — que até o momento não se intensificou — afetando a rentabilidade das carteiras de crédito privado no mês”, disseram os analistas do BB-BI. Marília Fontes, economista e sócia-fundadora da Nord Investimentos, reforça que o aumento da procura por títulos isentos de IR tem reduzido os spreads para níveis historicamente baixos. Porém, com a Selic ainda alta, “asfixiando” a maioria dos setores, ela projeta que pode haver cada vez mais crises envolvendo crédito. Ela cita episódios envolvendo Lojas Americanas e Light, em 2023, e casos mais recentes, como Ambipar e Braskem*. Segundo Fontes, além dessas grandes companhias, há também empresas menores que vêm atrasando pagamentos e acionando cláusulas de vencimento antecipado em seus contratos de dívida. “Se a política econômica não mudar e os juros seguirem altos por mais tempo, poderemos ver um evento mais sério de crédito, com potencial de contaminar toda a cadeia. O mercado está muito concentrado, principalmente entre pessoas físicas. É um momento de ter muito cuidado com crédito privado", alerta Fontes. 📉 * No caso da Ambipar e da Braskem, alguns investidores tiveram perdas de até 93% em aplicações ligadas a Certificados de Operações Estruturadas (COEs) que dependiam da saúde financeira dessas companhias. Esse tipo de produto mistura características de investimentos mais seguros, como a renda fixa, com componentes de maior risco. 📊 O rendimento — ou prejuízo — é definido a partir de um ativo que serve de referência, normalmente um derivativo de crédito que reflete a chance de a empresa não honrar suas dívidas. Esse investimento também não conta com a cobertura do FGC. Quando o investimento é recomendado Apesar dos riscos, investir em crédito privado não é necessariamente um erro: a adequação depende do perfil de cada investidor. Segundo os especialistas consultados, essa modalidade é mais indicada para quem tem perfil moderado ou arrojado, já que envolve o risco de a empresa emissora não honrar seus compromissos. Além disso, Andressa Bergamo, da AVG Capital, destaca que a análise de um título de crédito privado deve ir muito além da taxa prometida. “É essencial que o investidor analise com atenção a classificação de risco (rating), o setor de atuação, as garantias e a estrutura da operação.” Na seleção da carteira de crédito privado para novembro, os analistas do BB-BI, por exemplo, selecionaram títulos de debêntures incentivadas com classificações A, de empresas como Axia Energia (ex-Eletrobras), CPFL Energia, Sabesp, Isa Energia e Vale. Ainda assim, Diego Ramiro, da ABAI, lembra que, mesmo em casos de empresas bem avaliadas, como as de rating “A” ou “B”, o risco nunca será nulo. “Depois do caso Americanas, ficou mais difícil dizer que determinado emissor é completamente seguro”, observa. Outro aspecto relevante é o prazo de vencimento. Esses títulos costumam ter duração mais longa, o que exige do investidor disposição para manter o dinheiro aplicado por um período maior. O especialista em investimentos Jeff Patzlaff ressalta que, como nem to as debêntures têm isenção fiscal, é importante avaliar o impacto dos tributos sobre o retorno líquido. “A liquidez do papel — isto é, a facilidade de vendê-lo antes do vencimento — e o prazo são fatores centrais. Quanto maior o tempo até o resgate, maior tende a ser a oscilação do preço e a exposição do investidor às variações do mercado”, orienta. EDias oferece soluções de investimento personalizadas para proteger patrimônios divulgação Freepik

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/11/28/credito-privado-bate-recorde-e-acende-alerta-entre-especialistas.ghtml


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