Escritores boicotam festival literário por presença de María Corina Machado
17/12/2025
(Foto: Reprodução) Já em Oslo, Maria Corina Machado confirma que saiu da Venezuela com ajuda americana
Pelo menos três escritores desistiram de participar do Hay Festival, em Cartagena, na Colômbia, em protesto contra a presença da venezuelana María Corina Machado na programação. Segundo o jornal “The Guardian”, os autores justificaram o apoio de Machado à campanha de pressão de Donald Trump contra Nicolás Maduro, da Venezuela.
Ainda de acordo com a publicação, em uma carta anunciando sua desistência do Hay, a escritora colombiana Laura Restrepo descreveu Machado como “uma apoiadora ativa da intervenção militar dos Estados Unidos na América Latina”.
A escritora afirmou ainda que "não se deve dar espaço nem facilitar audiência a alguém que, como a sra. Machado, promove posições e atividades que submetem nossos povos e minam a soberania de nossos países. A intervenção imperialista não é algo a ser debatido, mas rejeitado de forma categórica”.
María Corina Machado, opositora do regime de Nicolás Maduro e vencedora do Nobel da Paz 2025, fala em coletiva de imprensa em Oslo, na Noruega, em 11 de dezembro de 2025.
REUTERS/Leonhard Foeger
Em seu perfil em uma rede social, o autor colombiano Giuseppe Caputo anunciou o cancelamento de sua participação. “Acho que, diante do grave momento de escalada da violência imperial, é melhor se retirar de um festival realizado às margens do bombardeado mar do Caribe, que decidiu convidar alguém que dedicou um prêmio da paz ao fascista responsável por esses crimes”, escreveu Caputo
Segundo o jornal, a escritora e ativista dominicana Mikaelah Drullard, a terceira a desistir em protesto, afirmou que o convite do festival a Machado equivale a uma validação de tudo o que ela diz e “uma arma ideológica para promover suas justificativas para intervenção, invasão e militarização dos Estados Unidos no Caribe, além de seu entusiasmo com o sucesso da ultradireita de Kast na eleição do Chile”.
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A participação da política venezuelana segue mantida na programação no festival. Ela deve fazer uma conversa virtual com o jornalista venezuelano Moisés Naím no dia 30 de janeiro. Sua equipe informou ao “The Guardian” que ela não se pronunciará sobre o protesto dos escritores.
O festival divulgou um comunicado afirmando que respeita a decisão dos autores, mas acredita que um diálogo aberto e diverso é essencial para defender “a livre troca de ideias e a liberdade de expressão”.
'É importante esclarecer que o Hay Festival não se alinha nem endossa as opiniões, posições ou declarações daqueles que participam de suas atividades, nem suas visões políticas', acrescentou.
Saída da Venezuela
Em recente entrevista, María Corina Machado disse que contou com ajuda de diversas pessoas e dos Estados Unidos para conseguir sair da Venezuela. A oposicionista ao governo de Nicolás Maduro deixou seu país para ir a Oslo, na Noruega, e receber o Prêmio Nobel da Paz.
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Corina Machado afirmou que levará o prêmio de volta para a Venezuela, indicando que ela pretende retornar ao país, mesmo com a ameaça do regime Maduro de a prender. Machado disse ainda sentir que "este é um momento de virada" na história do país. "Os venezuelanos estão sentindo que o mundo está com a gente", afirmou.
Na ocasião, Machado foi questionada se apoiaria uma intervenção militar no território venezuelano pelos Estados Unidos, ela respondeu que "a Venezuela já foi invadida", em referência ao governo Maduro. O repórter mencionou a apreensão de um navio petroleiro na costa da Venezuela por tropas americanas.
"A Venezuela já foi invadida, temos os agentes da Rússia, do Irã, temos grupos terroristas como o Hezbollah e o Hamas operando livremente com o apoio do regime [Maduro]. Temos a guerrilha colombiana e os cartéis de drogas, que dominam uma parcela do país. (...) Isso tudo tornou a Venezuela um polo do crime nas Américas. O regime é sustentado por um poderoso sistema de repressão, financiado pelo tráfico e a venda clandestina do petróleo. Precisamos cortar o apoio a esse sistema, e foi isso que pedimos à comunidade internacional", afirmou Corina Machado.