Foto de pernambucana é eleita uma das 25 imagens do ano pela revista National Geographic
26/11/2025
(Foto: Reprodução) 'Shouder to lean on', fotografia premiada como umas das 25 fotos do ano pela National Geographic
Maíra Erlich/Divulgação
A fotojornalista recifense Maíra Erlich teve uma de suas imagens selecionadas pela National Geographic como uma das 25 melhores do ano. A fotografia faz parte de um projeto que documenta o afundamento de bairros em Maceió provocado pela mineração de sal-gema, utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC.
Na imagem escolhida, "Shouder to lean on" [Ombro amigo, em tradução livre], um homem chamado Damião Carlos da Silva aparece de olhos fechados com um pintinho de estimação no ombro. Ele foi obrigado a deixar a casa onde vivia havia mais de 20 anos, às margens da lagoa Mundaú, após o solo ceder.
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Em entrevista ao g1, Maíra contou que decidiu criar o projeto para dar visibilidade à tragédia, que, segundo ela, ainda é subnoticiada. A ideia surgiu quando ela se inscreveu para uma bolsa da National Geographic Society, conquistada em 2023, semanas antes do colapso da mina 18, ocorrido em dezembro daquele ano.
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“É o maior desastre socioambiental urbano do mundo ainda em andamento”, disse Maíra Erlich em entrevista ao g1.
Sobre Damião e sua esposa, Luzia, Maíra contou que eles perderam não apenas a casa, mas também o sustento e os animais que criavam. O casal morava num barraco à beira da lagoa Mundaú, onde boa parte das minas de sal-gema estão localizadas.
Por conta do colapso ambiental, Maíra conta que eles pararam de encontrar sururu e peixe adequados para o consumo.
" Eles perderam a casa, o ofício e vários dos animais. Onde eles moravam era quase um sítio, então eles criavam porco, cavalo, gato, cachorro, coelho, todo tipo de bicho, era uma relação que eles chamavam [os animais] de filho", contou.
Para a fotojornalista, a imagem escolhida pela revista traduz a dimensão humana da tragédia.
“É uma foto que não fala claramente do que é a tragédia, mas é um detalhe ali, um momento muito silencioso que representa essa relação que Damião tem com os animais e que ele terminou tendo que se livrar dos bichos”, disse.
O trabalho, segundo Maíra, exigiu mergulho profundo nas histórias das famílias atingidas. Ela também relatou que pelo menos 20 pessoas já cometeram suicídio e outras morreram em decorrência do agravamento de doenças.
De acordo com dados oficiais, cerca de 60 mil pessoas, assim como Damião e Luzia, foram expulsas de casa.
“Muita gente morreu meio que de tristeza mesmo”, lamentou Maíra. “Você perde não só um imóvel. Às vezes era uma herança familiar, um lugar que traz uma noção de identidade, de comunidade”, disse.
Maíra afirmou que pretende ampliar a divulgação internacional do projeto. “Fico bem feliz de entender que existe um interesse de divulgação global e é nisso que eu vou trabalhar agora. Divulgar o máximo possível essa história lá fora para que, de repente, aqui dentro do Brasil, as pessoas possam dar mais atenção a ela também”, concluiu.
Edição de dezembro da revista National Geographic traz as imagens selecionadas como 'fotos do ano'
National Geographic/Reprodução
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