Tainara, Denise, Adriana: por que tantos homens matam e ferem mulheres no Brasil?
Tainara, Denise, Adriana: por que tantos homens matam e ferem mulheres no Brasil?
Denise, grávida de oito meses, assassinada pelo marido em Campinas, São Paulo. Maria José, morta a facadas pelo companheiro na frente dos filhos, no Distrito Federal. Adriana, asfixiada pelo marido em São José da Coroa Grande, em Pernambuco. E em São Paulo, outro caso de violência que chocou o Brasil nesta semana:
Tainara Souza Santos, de 31 anos, sendo atropelada e arrastada pelo carro de Douglas Alves da Silva. O Fantástico deste domingo (7) conversou com a mãe da vítima e com especialistas que explicam por que tantos homens são tão violentos com mulheres no país (veja matéria completa acima).
O feminicídio atingiu sua alta histórica no ano passado. Foram 1.492 casos. Em média, quatro mulheres assassinadas por dia. Os principais agressores: companheiros e ex-companheiros. O recorde aconteceu no mesmo ano em que a pena ficou ainda mais dura: hoje, quem comete feminicídio pode ser condenado a até 40 anos de prisão.
“A gente está vivendo uma escalada nos casos de violência contra a mulher, de forma mais específica com relação ao feminicídio", explica Juliana, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
"A gente não tem mais nenhum tipo de barreira para a violência física. Ela é feita com requintes de crueldade. Ela é feita de forma a, de fato, deixar a marca. Não basta matar a mulher. Eu preciso humilhar, eu preciso subjugar, eu preciso colocá-la numa situação de completa violação de direito", diz a especialista.
Relembre o caso
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Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou publicamente o caso de Tainara:
"No domingo à noite, no Fantástico, outra vez a violência contra a mulher, aquele carro arrastando aquela mulher por 1 km, que teve as 2 pernas amputadas. Depois, uma mulher que foi trancada dentro de casa, grávida, com os três filhos marido tocou fogo na casa. Então é o seguinte, eu resolvi assumir a tarefa de tentar criar uma mobilização de homem nesse país. Não é uma coisa de mulher, é uma coisa de homem, que é a violência do homem contra a mulher. Então nós vamos ter que criar juízo, criar vergonha nos educar, sabe? Ao invés de ser violento contra a mulher, a gente tratá-la com respeito", disse o presidente.
Leis de proteção às mulheres no Brasil ainda não são efetivas
O Brasil é, historicamente, um país perigoso para as mulheres. Tanto que, depois de muita mobilização de movimentos feministas, há 19 anos foi criada a Lei Maria da Penha — a principal ferramenta de combate à violência contra a mulher.
Desde então, vieram outros avanços:
Em 2015, o país passou a reconhecer o feminicídio e aumentou as penas para assassinos de mulheres.
Três anos depois, a importunação sexual virou crime.
Em 2021, foi criada a tipificação da violência psicológica contra a mulher, com pena de até dois anos de reclusão.
"Esse conjunto de medidas, embora ele tenha ganhado um pouco mais de fôlego após a Lei Maria da Penha, não dão conta porque, me parece, que a gente está trabalhando muito ainda com o viés da repressão. A gente não está conseguindo lidar com aquilo que, de fato, está anterior à ocorrência da violência".
Juliana complementa:
"Como é que essa mulher é enredada nessa situação de violência? Muitas vezes, ela sequer reconhece que está nessa situação, sem rede de apoio, e quando ela consegue ainda vencer essa barreira, muitas vezes, ela chega num sistema de justiça que não consegue dar guarida para aquilo que ela traz."
Para a ministra do STF, Cármen Lúcia, a Justiça precisa atuar com urgência no combate à violência contra a mulher. Ela defende a criação de uma rede que unifique esforços e ofereça apoio efetivo às vítimas.
"O que nós achamos é que é preciso que haja um grupo social, composto, eventualmente, até com a interlocução, com os órgãos estatais responsáveis pela afirmação das políticas públicas necessárias, para que a gente previna e acolha mulheres vulnerabilizadas, previna crimes ilícitos praticados contra as mulheres, todos os tipos de violência."
A ministra acredita, ainda, que investir na educação de crianças e jovens é essencial para transformar a cultura de violência no país.
"É preciso que nós, a sociedade, atuemos junto, por exemplo com o Ministério da Educação, para que nós tenhamos uma educação que vai mudar de forma muito mais vertical uma cultura brasileira de violências, especialmente de violências contra as mulheres que acaba explodindo neste quadro que nós estamos vivendo agora que é de barbárie", disse.
Outros casos
Nos últimos anos, diferentes cidades registraram episódios graves de violência contra mulheres — muitos deles com dinâmica semelhante: agressões motivadas por controle, ciúmes e tentativa de impedir que as vítimas terminem a relação.
Belém (PA) — Em 26 de outubro, Graziela foi arrastada por mais de 200 metros pelo carro do namorado, o médico Felipe Almeida Nunes. O caso começou após uma crise de ciúmes durante um casamento. Ela acordou desmaiada no meio da rua e pediu justiça. Felipe já havia sido denunciado por outra ex-namorada no ano passado.
São Paulo (SP) — Douglas Alves, que atropelou e arrastou Tainara por 1 km, já havia sido preso em 2023 por portar uma pistola 9mm. Em junho, firmou um acordo com a Justiça, confessando o crime para obter o benefício. Cinco meses depois, descumpriu o acordo e cometeu o atropelamento que deixou a vítima gravemente ferida.
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